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quinta-feira, agosto 19

Crônicas de Bordo

Vôo - Aeroporto de Congonhas - Ilha de Comandatuba

Para quem não sabe, em Ilha de Comandatuba existe um Hotel Transamérica e o aeroporto é do hotel, ou seja, não tem nada, da pista o povo vai pegar o translado e a bagagem que se vire. Ou melhor, os funcionários que se virem!

O público deste vôo é bem peculiar. Famílias inteiras, as ricas e também as emergentes, claro! Com tudo o que elas têm direito: malas, valises, sacolinhas de piscina que voltam cheias de brindes do hotel, inclusive toalhas (uma vez esqueceram uma, guardei, tenho a prova do jabá!) - e, pra continuar a lista, babás, bebês, mamadeiras e fraldas. Se o avião cai, o legado inteiro vai por água abaixo!

Na hora de servir a comida, todo mundo se refestela, menos, claro, as babás - que se mantém ocupadas em deixar as crianças numa distância segura do corredor por onde as comissárias manejam seus carrinhos (mas é obvio que tem sempre aquele pentelho que escapa!).

E lá vêm os pedidos especiais. O avô que é diabético, a recém parida que está de dieta e a(o) chata(o) que pergunta: Só tem esta opção? Nesta hora a vontade de dizer "Escuta, o vôo é pra onde mesmo? Hmm, 'opção' é no de Paris!" é tanta, vocês nem imaginam.

Com a bebida não é muito diferente não. Aquela big que foi aberta na primeira fileira, pode ter certeza que vai de encontro com um daqueles sujeitos barrigudos e cheios de si, que vai reclamar que ela está choca. E vai tentar explicar que do inicio ao fim do avião não dá tempo da bebida ficar velha. Até porque muitas vezes já é a segunda garrafa!

Chato mesmo é a hora do café. Certa vez, uma mulher, com seu bebê no colo e sua babá no banco ao lado, teve o seguinte diálogo com a comissária em parceria comigo neste "glamouroso" serviço de copeira:
- Eu quero!
- Açúcar ou adoçante?
- Açúcar.
Enquanto a colega já colocava o café na xícara e se preparava para estender a mão com o açúcar e o mexedor, ouve-se:
- Será que você já pode por dois sachês e mexer pra mim?
Mudez total.
Ela preparou e entregou a xícara. Enquanto isso a babá, que neste momento se realiza, está em vantagem: até ela pode pedir "um cafezinho". Não mexeu um dedo e continuou olhando pro além da imaginação. Vai saber se ela não estava era cobiçando ser apenas a comissária que nunca mais ia ver a chata na vida!Já com o café em mãos, a chata continua:
- Ei, espere-me tomar para já levar a xícara, não quero que fique aqui...
Mudez, troca de olhares comigo, contamos juntas até dez, olhamos ao redor, vários passageiros querendo café e a gente ali, deixando esfriar no bule.

A volta é um pouquinho pior em alguns aspectos e melhor em outros. Tirando a quantidade de bagagem que não se tem onde por (ex. toalhas Transamérica Hotel).
Eles estão voltando de férias, mais bronzeados, com a auto estima melhor (isso significa menor necessidade de tratar mal o próximo, que no caso são as “aeromoças”), querem tirar uma soneca, não se preocupam muito com a comida (também, já encheram o buxo por uma semana!).

Em compensação, o avião inteiro já se conhece, falta só a brincadeira do amigo secreto (que não rola aqui, afinal isso é coisa de “pobre”). Então temos um ir e vir eterno, durante aproximadamente 3hs, o que faz com que nosso trabalho demore muito, indo e vindo, dando passagem para as “maletas” que querem aproveitar seus últimos minutos de férias ao lado dos novos amigos.

Só quem não volta bem é a babá. Essa, de férias não teve nada, deve até ter tomado um “torrão de Sol”, porque tempo para passar bloqueador em si mesma não existiu. Não pode aproveitar uma única atividade noturna por diversos fatores (seus patrões estariam lá e com que modelito elas iriam?).

Enfim, Sampa – Comandatuba – Sampa não paga nem a maquiagem e o gel que usamos e ainda dá despesa com o sal de frutas para enjôo que eles dão na gente.

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